sábado, 16 de outubro de 2010

Você conhece... Manuel Bandeira?

Um grande poeta brasileiro, que traz em seu trabalho uma carga de emoção e filosofia sem ser piegas.

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, pernambucano nascido em 1886, foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.

"Sim, Luh, e daí? Isso eu acho na internet. O que esse cara tem de bom?"

O que me fez escrever sobre ele foram as incríveis aulas de literatura que tive sobre Modernismo.
Bandeira escreve de modo simples e direto, valorizando os mais singelos detalhes do cotidiano. Também havia em suas poesias um pouco de melancolia, ironia, graça. Mas o mais interessante é o motivo que o levava a escrever assim: ainda jovem, descobriu que era doente dos pulmões e vivia na perspectiva de que poderia falecer a qualquer momento. Agora pare e imagine:


O que você faria se soubesse que vai morrer daqui a seis meses?
Ele viveu seus 82 anos sendo alertado pelos seus médicos periodicamente sobre esse fato.

As simples coisas da vida ganhavam brilho em sua provável vida curta.

Pardalzinho

"O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!"

Aqui, uma das poesias que evidenciam o sentimento da espera pela morte. É evidente que, já acostumado com essa sensação, ela a trata com tranquilidade.

Consoada

"Quando a Indesejada
(a morte) das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível! (Pois é impossível iludir a morte. Note como ele a trata com conformidade)
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,

Com cada coisa em seu lugar."(Aqui, ele demonstra que já está pronto para recebê-la)

Um de seus mais famosos poemas, "Vou me embora pra Pasárgada", aparece como uma exceção ao seu estilo que enfatiza o cotidiano simples e real. Nele, Bandeira idealiza um lugar onde ele poderia viver sem seus problemas de saúde, um tipo de fuga da realidade. "Pasárgada" surgiu no imaginário do poeta quando, ainda era criança, ouviu essa palavra e sem saber seu significado, imaginou um lugar. Quando adulto, ao passar por problemas, lembrou-se do "local" e fez o poema.

Vou-me Embora pra Pasárgada

"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!


E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada."


Me interessei muito pela vida e obra de Manuel Bandeira, pelo seu talento e sua história. E você?

Beeijos!

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